Cumprir com o seu dever não é caridade, é dever!
Hoje é que fui pagar minhas contas pessoais todas atrasadas(ainda bem que tenho o Tuty que cuida das contas da casa).
Pois bem, passando pelas ruas, sem a pressa de todos os diária, vou observando as pessoas nas ruas, seu modos, seus jeitos, suas conversas, as expressões em seus rostos e, na maioria das vezes o que vejo é dor, é sofrimento, é egoísmo...
Passam sem prestar atenção em nada além de em si mesmas.
Então me deparo com rapazes, adolescentes, dormindo na calçada do TCC.
Meu Deus, não consigo me acostumar com isso, não consigo achar isso normal e passar indiferente sem me perguntar, cadê a família, cadê a sociedade inclusiva e solidária?cadê o Estado?
Um jovem, um menino provavelmente dependente de crack deitado ao relento, um vento frio servindo de coberta. Como é que as pessoas podem passar indiferentes a isso t? endo o cuidado de passar ao largo afastando-se como se ali estivesse um cão raivoso ou sarnento?.
Passo e sinto vontade de estender-lhe a mão em ajuda. O que posso fazer meu Deus? Voto com consciência, executo meu trabalho com responsabilidade, contribuo com impostos para uma sociedade mais justa e igualitária mas sinto que isso não é o suficiente, mas sou terminantemente contra doações, não por ser sovina, avarenta ou por não me condoer com o sofrimento alheio, mas simplesmente por não acreditar em sua destinação.
Do lado de fora ouço a música que vem do TCC, os sorrisos, a alegria enquanto dois meninos dormem ao relento na calçada do lado de fora. Excluídos da vida, da sociedade, como se não tivessem direito a serem felizes.
Sigo meu caminho assim, preocupada, sentindo-me culpada por nada fazer, pago minhas contas, acho o cartão da moça no caixa eletrônico e fico a pensar no transtorno que aquela coitada vai passar até terça-feira e me desespero por não ter como encontrá-la. Vou ao Shopping Tijuca comprar finalmente a bendita mochila que preciso para o material de trabalho e lá, a mesma coisa: consumo, sorrisos, crianças exigentes e manhosas, verdadeiras ditadoras, pessoas tirando fotos para lembrar do passeio Cãezinhos gordos, pesados urinando nas árvores e suas donas dizendo carinhosamente: vem com a mamãe.enquanto isso,dois meninos estão deitados na calçada.
Demoro um tanto para escolher a mochila, procuro uma case com teclado para o tablet e volto. Na volta, páro para comprar o almoço afinal Cida está de feriado, e lembro dos meninos. Compro algo para eles comerem se ainda estiverem por lá, se não estiverem, darei ao porteiro ou deixo para a janta. Subo a rua assim, pensando ainda nos meninos e avisto de longe um amontoado no canto do muro. Sim, ao menos um deles ficou, o que tinha uma coberta. Atravesso a rua e fico receosa de atrapalhar seu sono. Chamo com calma para não assustá-lo. Filho, ei, dorminhoco.Nada. Ah meu Deus será que está morto? Toco-o chamando, filho, acorda que eu trouxe seu café. Ele e senta-se, atordoado pelo sono, como olhos de menino, olha para mim como, numa lembrança de um tempo em que a mãe o chamava para a escola. Olha-me dentro dos olhos com um olhar tão doce quanto perdido, mas com medo, provavelmente pensando que o estava enxotando de lá. Digo-lhe: filho, trouxe seu café, uma comidinha pra quando você levantar, ele recebe meio sem acreditar. Ele agradece sem me chamar de tia. Sigo, ainda pensando que poderia ter-lhe dado mais, não somente o alimento físico, poderia ter-lhe dado ainda que silenciosamente o amor que, provavelmente ele não recebe.
Somos os humanos e somos os únicos animais que não cuidam das crianças de sua espécie como se fossem suas. Os elefantes assim o fazem, as lontras, os pinguins, os suricatos, os símios. Mas os humanos, ah, os humanos.
O apóstolo Tiago diz que não devemos apregoar a caridade que fazemos, mas o que fiz por aquele menino não foi caridade e sim meu dever.
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