Grande Circo Brasil apresenta:Noites de palhaçadas com O Mensalão e a Educação.

Ontem, sábado, saí de casa às 7h para ir ao Mestrado em Juiz de Fora. Cansada e com a disposição de mil cavalos ...mortos, como diria meu irmão.

Cheguei de volta ao Rio lá pelas 17h pensando em preparar a aula da semana que vem e algumas Oficinas novas nos moldes do ENADE. Meus planos pedagógicos se frustraram ao sentar-me frente a TV para assistir um pouco com meu marido. Afinal, não importa o grau de instrução, tem que dar atenção à família. A vida não é só pensar, é muito mais sentir e estreitar os laços de amor e amizade através do companheirismo e cumplicidade. Dormi lá, no sofá. Meu marido saiu e voltou, foi com um amigo a um baile ou pagode bem ao seu estilo e eu  dormindo no sofá. Não sei qual o mistério mas acordei na cama, alta madrugada, voltei a dormir e só acordei de verdade às 9h45.
Jornais e revistas já em cima da mesa. Sinal de que o marido chegou pela manhã e então penso com um sorriso no rosto amassado pela imensa noite de sono: ainda bem que ao menos uma pessoa nesta casa tem vida social, mantém contato com os amigos, porque eu, só tenho o trabalho, os compromissos. Não que eu não goste do meu trabalho, mas Anita, minha terapeuta que não vejo ha mais de ano diria. Tem alguma coisa errada aí, moça. 

Bem, levanto com a disposição de dar cabo do trabalho a que me propus ontem. Aulas e Oficinas, além de terminar o artigo do Mestrado para o qual já perdi o prazo da entrega.
Vivo assim, empurrando os compromissos, estabelecendo prioridades de tudo o que já é prioritário.

Antes de começar meu dia de professora em pleno domingo de sol, aproveito a falta de luz na Tijuca e passo os olhos pelas manchetes que, tirando as frivolidades das celebridades que em nada me interessam, restam o resultado do censo sobre a educação no país, o mensalão, a crise na Europa e blá, blá, blá. Um único artigo na Veja sobre o Carlos Drumond de Andrade, uma pena porque ele merece uma edição inteira só pra si. No mais, só bobagens sobre o corpo, a moda o consumo. E penso: Carlos Drumond, esse sim conhecia bem a alma do povo brasileiro.

Dou atenção àquilo que mais me interessa e que ganhou destaque nas três publicações, Veja, Época e O Globo,  a Educação e me pergunto: porque isso de escolas modelos, que  a despeito de todas as necessidades e privações por que passam e descuido do Poder Público alcançaram um bom resultado? Ora, isso deveria ser regra e não exceção! e me deparo com uma declaração de Miriam Leitão que diz em sua coluna  sob o título " O risco de banalizar o ilegal" publicada em O Globo: 

 "Todo caixa dois tem um crime antecedente. Um dos piores resultados possíveis do julgamento do mensalão seria a aceitação do caixa dois como um fato da vida ao qual deveríamos nos resignar. Aceitá-lo como espécie de subcrime porque 'política é assim mesmo'. Empresa que doa de forma clandestina tem  propósito inconfessado ou dinheiro de orígem criminosa".

Leio ainda nas páginas seguintes de O Globo, a questão sobre a política para o combate ao crack e me vem aquela sensação de estar sendo enganada. Não há política alguma, não há medida eficaz e verdadeiramente decidida a combater esse mal que  se abate sobre a nossa sociedade e que atinge, principalmente, as camadas mais pobres da população.
Leio sobre o uso dos recursos do FGTS para o programa habitacional e o que pretendem fazer com tais recursos.
De um lado, servidores federais querendo ganhar mais que a presidente da república, aumentos que não refletem a política salarial de quem labora nas empresas privadas. De outro lado, pessoas tendo que sofrer agruras para obter tratamento médico nos grandes centros.
As manchetes, refletem os valores do nosso tempo, do consumismo exacerbado, da falência do Estado em assumir seu papel e cumprir sua parte no contrato social pela mais completa inversão de valores, pela falta de moralidade, de ética, de senso de coletividade. de dever de urbanidade.

Sou professora universitária e a cada semestre recebo alunos despreparados intelectual e moralmente. Na última semana soube que no semestre passado e ainda nesse semestre, alunos do primeiro período de Direito (!!!) pagam R$ 15,00 a um outro aluno por cada Caso Concreto resolvido. Isso tudo para receber até 1 ponto no somatório da nota. Alunos que não sabem pensar, não têm capacidade de reflexão crítica, não sabem escrever, não têm domínio da lingua pátria e, o pior de tudo, não querem aprender e não aceitam que possuem limitações e que precisam saná-las, pior ainda não se importam com nada além de passar e obter um diploma. 

E Me vem a reportagem com o resultado da última prova da OAB, apenas aproximadamente14% obtiveram aprovação e que a maioria dos inscritos já prestaram a prova ao menos uma vez. 

De tudo o que leio chego a conclusão de que, essa inversão de valores tende a piorar se no julgamento do mensalão não restarem condenados todos os bandidos e seus asseclas.

Resta-me indignação mista com a sensação de impotência. Impotência ao ver Fernando Collor no Senado, José Sarney mandando e desmandando no país com se fosse seu feudo ou como um coronel. Luiz Inácio tirando de santo ou de total imbecil ao se dizer inocente de todas as falcatruas que ocorriam embaixo do seu nariz. Professores em greve sem receber a devida atenção, educação em baixa, e impostos de tirar o fôlego capazes de exaurir as últimas energias morais do contribuinte.

Não tem como ser moral num país imoral. Não tem como preservar valores éticos num país que aceita o caixa dois como coisa natural e normal em política. 
É de chorar, de desanimar ver o Ministro Lewandowski, se insurgir contra a condenação,  num bloco só e por um só crime, de todos facínoras que contribuem para a desgraça do povo brasileiro. Enquanto a Europa passa por uma séria crise econômica e tenta a todo custo se manter, o Brasil se nega a  extirpar de vez o câncer que necrosa todas as  células da sociedade que é a corrupção! Ou eu paro de ler jornal ou continuo lendo e me sinto cada vez mais enganada, morta, excluida da  vida política e civil do meu país.
Como eu queria ser como o Tuty,  meu marido, e não pensar e não me preocupar com essas coisas.

Enquanto isso, o povo entorpecido, assiste Avenida Brasil e os homens, não dormem enquanto não assistem Gabriela.



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