Viagem no Tempo

Resolvo ir com os demais ver a tal atividade, é algo que temos que fazer mas não precisamos fazer. Eu não preciso fazer mas quero fazer. Me vejo então caminhando em direção a uma rampa calçada, na verdade é uma calçada morro acima onde uma fila já vai lá no alto, alguns estão voltando de lá, descendo, outros estão parados contemplando a vista. Sigo em direção à fila para esta atividade que nem todos podem fazer, muitos têm medo por ser desconhecida, o bom dessa atividade é que nunca sabemos o resultado final, como um jogo de RPG. pois o que me consta é que ninguém realmente sabe do que se trata, apenas que ....Bem, eu não sei ainda Posiciono-me logo após o último da fila. Vejo as quatro pessoas à minha frente há uma senhora idosa, um rapaz de muletas e um rapaz alto e corpulento. Fico atrás desse homem grande e digo-lhe: sabe, não adianta ficar brigando por coisas pequenas como, vaga para estacionamento, ou direito de passar a frente na fila, isso é bobagem e perda de tempo; eu brigaria por um direito que englobasse todos os outros e que não precisasse de vaga preferencial direito de serem aceitos e que esses direitos não precisem estar escritos, de que adianta preferência para estacionar se eles não são respeitados. Um direito que abarque todos os outros. Não sei porque digo isso mas lembro-me e isso me faz vivenciar ao mesmo tempo que lembro que no caminho encontrei uma moça grávida, ela caminhava ao meu lado suada e eu pensava que como pode uma moça grávida se empenhar num trabalho que talvez não pudesse terminar por conta da gravidez, o bebê ia nascer e ela ia ter que deixar o trabalho. Acho estranho pois lá na fila, que é logo adiante, é dia claro, sem sol como se estivesse nublado mas um dia bonito, cinza..e, no lugar onde encontro a moça, o tempo está fechado, escuro como se fosse noite mas...Ela me pareceu uma moça pobre mas inteligente, como se fosse mais ou tão estudada quanto eu.... Ela me fala algo como que está desenvolvendo um novo trabalho para proteção dos idosos ou para fazer valer o direito deles e garantir estacionamento preferencial para as pessoas idosas.
estranho uma mulher grávida preocupada com os idosos. Não gostei do seu projeto, achei tolo mas não digo nada, fico calada afinal cada um com o seu trabalho, meu pensamento me leva de volta à fila e, como disse, lá é mais claro, quero testar a nova atividade.
Na fila h´aum verdaeiro ti-ti-ti acerca do que vai se passar,as pessoas comentam especulam como deve ser, um deles diz que já foi uma vez que para chegar ao objetivo fazemos uma pequena viagem dentro de um compartimento que nos leva a algum lugar e lá chegando é que começa a atividade. Penso que vou encontrá-los lá e que vamos trocar as experiências da viagem. Sabemos que não vamos viajar, vamos apenas passar por um espaço que nos levará lá, uma portal dimensional.
Vejo uma porta pequena, um colega da fila, uma moça com cara de advogada diz que é só entrar e num instante tudo está feito, tentando tranqüilizar a senhora e o rapaz de muletas, o grandão pergunta: será que eu caibo aí?, Tenho uma vaga lembrança de ter feito essa mesma brincadeira antes mas não consigo lembrar de como é...Todo mundo está ansioso.
É uma porta pequena não podemos ver nada além dela, me faz lembrar elevador de rouparia de hotel ou de cozinha, para os pratos prontos. Uma portinhola como no livro da Alice no País das Maravilhas, que sabemos que não vai longe. Por um momento fico com medo e penso desistir, volto ao lugar escuro vejo a moça grávida vindo ela está molhada mais cansada mas vem longe. Vou para a portinha mas tenho a impressão que já tinha ido e que a moça grávida era só lembrança. O tempo não tem tempo é tudo ao mesmo tempo e, de repente minha viagem já estava terminando na verdade, que a moça era só lembrança lá de fora, lembrei de outras coisas mas coisas com minha família, meu pai, minha mãe e isso me tranqüilizou. Percebo que estou deitada sobre uma espécie de caixa rasa, tipo caixa de gato só que comprida do meu comprimento, uma maca, uma mesa estreita sei lá! Estou dentro da casinhola passando por uma espécie de túnel, minha cabeça bate no lado da caixa e me machuca. Preocupo-me pensando que posso ter dado um jeito pra sempre na minha cabeça, vou ficar com defeito na cabeça, dor de cabeça? Penso que não me acomodei direito nela e mexo pra ver se está tudo bem,. Está...só o mal estar de ficar tanto tempo deitada naquele túnel que não termina, com a cabeça batendo na lateral da caixa, do túnel; ao mesmo tempo sinto que tudo foi tão rápido.... De repente abro os olhos, está escuro, é noite, parece noite – o tepo não existe - mexo a cabeça pra ver se está tudo bem, lembro das pessoas penso em encontrá-las mais tarde para saber da viagem. Sinto meu travesseiro duro, diferente sinto a aspereza de uns remendos no tecido, olho e vejo que é tão limpo embora seja remendado e penso: sou pobre, posso sentir que no quarto há mais camas mas não ouço nenhum barulho nem posso ver pessoas, só penumbra, mas sei que tem mais gente ali. Penso que quero a minha outra cama, quero voltar pros meus amigos, pra antes da portinhola. Eu não queria mesmo essa brincadeira, vim porque todos vieram. Estou num quarto meio escuro e alguém está ao meu lado, eu não sei quem é, pode ser uma mulher. outras camas no mesmo quarto penso que é um albergue . Olho pela janela e vejo uma mulher enhora sentada quase perto do vidro, de costas para mim olhando o caminho ao longe...um lugar com árvores, mas arvores estranhas...casas estranhas parece imagens do livro das estórias infantis. parecem desenho..Bato no vidro da janela para chamar sua atenção, ela está mal humorada, esperando fumando um cigarro de fumo... De repente vejo duas crianças vindo no caminho de desenho animado. Eu bato na janela e chamo: Moooça... Ela olha para mim zangada e diz: Quem disse que eu sou mulher?
Eu penso: VIxe, nesse lugar, mulher é homem..o que eu sou, mulher ou homem?
Vejo duas crianças vindo em direção à mulher e a chama de vó ela é nova mas já é avó.. São crianças negras vindo da escola e ouço uma voz de dentro da casa chamar para comer .As crianças falam:..a menina com voz de homem e o menino com voz de mulher...
E. só então me dou conta que nem tão cedo vou voltar para a pousada nem para minha vida antes da pousada.
Pensei que na verdade, eu estou vivendo outra vida..que a porta era o nascimento para cá, o túnel era o ventre da mãe, o parto..a mulher grávida poderia ser minha mãe, lembrando o que eu deveria cumprir nesta vida..para eu lembrar, pensei que a cada morte e renascimento nossa experiencia com o nascimento fosse diferente para não lembrar. Por isso a portinha cabe pessoas de qualquer tamanho, uns acham que viajam de pé , outros, como eu, acha que viaja deitada.
A confusão de confundir distância( entre a mulher grávida e o povo na fila), o tempo de duração da viagem.. Lembranças que tive durante a viagem e pensei que estivesse vivenciando ainda do lado de fora.
Lembro dessa vida de agora e penso que não é justo eu nascer pobre novamente, já que fui tão legal e não fiz nada de mal pra ninguém. Fico zangada mas logo me conformo pois sei que tem que ser feito.
Será que numa próxima vida nascerei mais pobre? Será que deverei lutar por direitos de velhos? Será que serei gay?
Depois da conversa com a velha das crianças pensei que a gente nunca sabe como vai ser a vida seguinte, sabe apenas o projeto a cumprir.
Será que revivi um dos meus nascimentos???
Bem tenho certeza absoluta que o túnel é a passagem do nascimento. Nasci de parto normal.
O dia passou e fiquei com o sonho na cabeça.
Falei com meu filho e ele disse que devo realmente ter lembrado do nascimento e do lugar que ficamos antes de nascer novamente.
Mas nunca vou saber porque nos é impedido lembrar.
Nascer pobre...Que saco! Lutar tudo outra vez.
Por que essa lembrança agora?
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